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Bastante freqüentada é a corrente do conhecimento que acredita que as espécies que evoluíram não são as que apresentam maior complexidade, mas sim aquelas que têm a mais elevada diversidade genética.

Outra verdade, de caráter dogmático entre os melhoristas de plantas, é a existência da interação genótipo x ambiente, o que sob uma visão pragmática resulta em que para um dado ambiente, existe uma cultivar que melhor se adapta a ele e que é diferente de uma cultivar que melhor se adapta a um distinto ambiente.

Desta forma, um programa de melhoramento eficiente, na teoria, desenvolveria uma cultivar para cada distinto ambiente em que a espécie considerada viesse a ser cultivada. Por questões óbvias, ligadas principalmente à limitação de recursos, esta perspectiva torna-se impraticável. O que acontece, geralmente, é que a seleção dos indivíduos mais promissores a se tornarem cultivares é realizada em um dado local e as cultivares que resultam destas seleções vêm a ser plantadas em um universo de ambientes bem mais abrangente. Adicionalmente, a participação dos futuros usuários, os agricultores, na seleção destas cultivares, na grande maioria dos casos, inexiste.

O resultado destas práticas é a perda em eficiência tanto em termos de produtividade, configurando o que se convenciona como interação genótipo x ambiente, como em termos de aceitação da cultivar, pois aumenta a probabilidade de que a cultivar não atenda às expectativas do agricultor.

Na Embrapa Clima Temperado o programa de melhoramento do feijão vem desenvolvendo metodologias de melhoramento que buscam contornar as barreiras que limitam a eficiência das cultivares desenvolvidas. 

Uma das metodologias consiste em submeter populações geneticamente variáveis à seleção por parte dos agricultores nos ambientes representativos das propriedades destes agricultores. Estas populações de base geneticamente ampla possibilitam o aparecimento de indivíduos recombinantes com adaptação a uma variada gama de ambientes, como os encontrados no Rio Grande do Sul. Com isto, minimizam-se significativamente os efeitos da interação genótipo x ambiente, simultaneamente eliminando a possibilidade de rejeição da cultivar, na medida em que o próprio agricultor participa do processo seletivo.

Outra metodologia voltada para a redução da interação genótipo x ambiente e que resulta em maior diversidade genética, pois tende a atender aos requerimentos ambientais específicos encontrados, é a submissão, aos agricultores familiares, de coleções de cultivares de feijão já indicadas pela pesquisa para cultivo no estado. Ao identificar qual a cultivar que melhor se adapta à sua unidade de produção, ele promove uma exploração mais harmônica deste ambiente, consequentemente diminuindo os efeitos da interação genótipo x ambiente. 

A última iniciativa metodológica, adotada na Embrapa Clima Temperado e a ser relatada, diz respeito à instituição do instrumento denominado de Partitura de Biodiversidade (PBio). Esta se constitui de uma coleção de cultivares crioulas de feijão. A diversidade destas cultivares, que resultam de um longo processo de adaptação a um dado ambiente a partir da seleção natural, combinada, ou não, com a seleção realizada pelo agricultor, é de significativa magnitude. Ampla variação de forma, tamanho, brilho e cor de sementes, de ciclo, de arquitetura de planta, de reação a fatores bióticos e abióticos, de composição nutricional e funcional, são encontradas. O destino usual dessa variabilidade são os bancos de germoplasma, de onde pouquíssimas cultivares resultam usadas em programas de melhoramento. Ao mesmo tempo, rápido atuam os processos de erosão genética, que se dão pela troca destas cultivares por outras derivadas da pesquisa, ou pelo avanço da urbanização ou, muito significativamente, pelo desaparecimento dos agricultores que as mantêm: os “guardiões de sementes”.

A PBio atua exatamente na direção inversa; conduz ao amplo conhecimento destas populações nos diversos ambientes onde o feijão é cultivado. Como resultado, tem-se: maior diversidade genética pela introdução de distintas cultivares no ambiente considerado; preservação in situ deste germoplasma, possibilitando o prosseguimento do processo de coevolução; maior segurança alimentar pela preservação destas fontes de alimento; novas perspectivas de mercado pela adoção de um novo tipo de feijão e diminuição da vulnerabilidade genética pela maior diversidade genética resultante, o que concretamente pode ser entendido como menor suscetibilidade a pragas e doenças e a fatores abióticos como os que resultam das mudanças climáticas. Novamente tem-se a participação do agricultor na condução do processo seletivo no ambiente no qual a cultivar será semeada; ou seja, mais uma vez a interação genótipo x ambiente tem seus efeitos minimizados, implicando maior eficiência no processo produtivo e uma quase nula possibilidade de rejeição da cultivar. 

Todas essas alternativas metodológicas têm sido praticadas. Diferentes situações indicam a melhor adequação de uma ou outra. Os resultados já obtidos apontam para o significativo avanço em termos de uma maior produtividade e do surgimento de alternativas de caráter agronômico, nutricional, funcional e econômico, bem como de adaptação a condições climáticas desfavoráveis, o que resulta na sugestão de que tais práticas metodológicas poderiam ser estendidas a outras espécies. 

Artigo originalmente publicado em 23/09/2011 

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Clístenes Antônio Guadagnin
23/09/2011 - 11:14
ParabÚns ao grupo envolvido pelas excelentes iniciativas, especialmente as que consideram a sabedoria dos agricultores(as) nos processos de tomada de decisÒo em favor da conservaþÒo e ampliaþÒo da agrobiodiversidade. Percebe-se que em diversas culturas, destacando-se neste caso a valiosa magnitude da diversidade genÚtica presente no feijÒo, que ao se propor trabalhos sem o intuito de "querer inventar a roda", possibilitam o acesso Ós cultivares e variedades que mais interessam aos principais usußrios (especialmente Ó agricultura familiar) dessa tecnologia acessÝvel e adaptada Ós mais diversas condiþ§es. Fica evidente que nÒo hß a necessidade de inserþÒo de genes "estranhos" ao feijÒo quando se disp§e de uma ampla base genÚtica jß adaptada ao agroecossistema e que possibilita aos melhoristas que respeitam os princÝpios da precauþÒo, selecionar e apontar caracterÝsticas diferenciais que podem ser promissoras. Os agricultores, tÚcnicos e o ambiente devem agradecer essas iniciativas!

Patricia Bustamante
26/09/2011 - 12:32
ParabÚns Ó equipe! A valorizaþÒo do saber do agricultor e o seu envolvimento gera confianþa e acelera o processo de adoþÒo da cultivar gerando vantagens para todos. Processo aparentemente simples mas que exige mudanþa de mentalidade e aproximaþÒo dos agricultores familiares, numa relaþÒo respeitosa pelo enorme conhecimento que possuem. Desejamos que iniciativas como essa se mutipliquem pelo Brasil. Todos s¾ terÒo a ganhar!

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